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A atualidade da filosofia dos sofistas

É surpreendente que “em um mundo tão pouco platônico como o nosso, a rejeição da sofística permaneça tão mal questionada”, assim descreve Barbara Cassin a perplexidade de George Kerferd (tradução Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão). E não obstantes todas as tentativas de reabilitação da sofística desde Hegel, ou desde Nietzsche, quando precisamente nosso mundo tomou consciência do limite de seu platonismo, a sofística ainda é hoje, aqui e ali, antonomásia daquilo que o Ocidente teria a deplorar em si mesmo – e quanta coisa o Ocidente teria a deplorar ao lado dos feitos de que ele ordinariamente se orgulha! – falsidade, perversidade, falatório, hipocrisia. Não adianta, porém, querer separar mocinhos e bandidos nessa história. O sofista é sempre o outro, nunca si mesmo. Melhor assumir o fatídico que acometeu a Grécia do século de Péricles e que acomete a nossa contemporaneidade: a consciência aguda (ou ao menos a evidência, a despeito da inconsciência) de um multiculturalismo que põe de saída em suspenso toda asserção unilateral sobre essências, seja no domínio ético, seja no natural. Trata-se da velha diferença entre phýsis e nómos, no centro do debate sofístico. Ora, a consciência da diferença entre natureza e lei é, para usar um termo de Castoriadis, a própria ruptura com a “clausura cultural”, esse paraíso da univocidade, da aderência perfeita de palavras e coisas. Eis a ambiguidade fundamental: a libertação da clausura é também expulsão do paraíso, por isso não dá para só execrar ou só enaltecer o Ocidente. Cabe, no entanto, aceitá-lo com amor fati. Se nestas paragens não é mais possível contar com o ideário iluminista como substitutivo dos antigos critérios teocráticos, também não é possível simplesmente aceitar que se reestabeleça um regime monocrático qualquer, a ser fundado num critério fatalmente relativo, mas que se autoconceda ares de absoluto. E para qual lado há de voltar a cabeça o helenista contemporâneo preocupado com essa questão?  Se voltá-la para o lado dos sofistas antigos, encontrará material muito interessante para a construção de uma filosofia do espírito do nosso tempo, como a igualdade natural de gregos e bárbaros, o caráter não-natural da escravidão, o caráter político e positivo da lei, a irredutibilidade do domínio político ao modelo da técnica, o vínculo entre pedagogia e virtude política, o caráter problemático da linguagem para além do seu estatuto aparentemente banal de representação do real, o caráter humano e limitado  de todo pretenso conhecimento objetivo, a reserva agnóstica perante a convicção dogmática, a irrupção inevitável de dois discursos contrários em torno de toda causa e a relatividade dos valores religiosos, morais e estéticos.

O Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PFI) integra o Instituto de Ciência Humanas e Filosofia (ICHF) da Universidade Federal Fluminense e oferece mestrado acadêmico na área de filosofia. O programa congrega dezoito docentes, entre membros permanentes e colaboradores, distribuídos em duas linhas de pesquisa: "Estética e filosofia da arte" e "História da filosofia". Os processos seletivos de ingresso ao mestrado têm lugar anualmente entre o primeiro e o segundo semestres letivos.
 
Pós-Graduação em Filosofia
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